Um ano depois do processo de impeachment da presidente Dilma Roussef, o País se vê novamente mergulhado num momento de tensão política. Nesse período de governo ilegítimo, vivenciamos claros retrocessos e propostas que atingem as riquezas brasileiras, e também políticas públicas e direitos da população que mais precisa.

Agora, depois deste período, também ficaram mais claras as razões que levaram à deposição da presidenta. Muito antes dos erros cometidos pelo governo, o que motivou a tomada de poder foi a tentativa clara de, a todo custo, livrar-se de responsabilidades. Não há o que comemorar nesta conjuntura.

Tanto quanto desejamos a apuração de toda e qualquer denúncia, contra quem quer que seja, esperamos que este momento de crise nos leve à profunda reflexão do sistema político brasileiro. E que leve, também, a um debate que considere efetivamente as aspirações da base da população brasileira.

O governo de Michel Temer foi criado com a marca do golpe, e utilizou-se de todos os mecanismos para pagar a conta do golpe aos setores que o financiaram, além de buscar a garantia da impunidade. Nunca houve legitimidade num governo que propõe reformas previdenciária e trabalhista atacando os mais pobres. E neste momento não há qualquer sustentação para que mantenha-se conduzindo o País. Que caia Temer, e junto com ele sua agenda de retrocessos.

Agora, mais do que nunca, é urgente a refundação de nosso sistema político; uma refundação baseada na democracia e no debate de ideias. Precisamos ter maturidade e cuidado para não permitir que esta tensão política conduza o País à fácil decisão pela ditadura, pelo fascismo, e por um discurso que se espelha no ódio com a fantasia de que faz justiça.

Não há justiça no ódio. Não há justiça num regime de exceção. A solução virá de baixo para cima, das lutas e debates nas periferias, nos centros urbanos, no campo, nas salas de aula. Que saibamos, finalmente, ouvir a voz do nosso povo com verdadeiro desejo de mudança.

Padre Pedro Baldissera